quarta-feira, 18 de março de 2009

O Liceu

Em lindos jardins, entre a luxuriosa natureza por onde sopram ventos temperados com o cheiro dos salgueiros, homens sábios de barbas brancas trilham caminhos de seixos já gastos pelos pés dos alunos que os ouvem atentamente. Falam sobre a natureza, o homem, a metafísica e a busca da felicidade. De tempos em tempos param,olhando fixamente as nuvens no céu azul, tentando descobrir o poema secreto escrito pelos Deuses. Ali chegando em busca do Liceu da Sacra Goliae Conphraternita, o porteiro do parque terá a bondade de indicar para que você vá...
...Ao outro lado da cidade, a um bar de paredes que um dia foram caiadas, próximo do porto, mais precisamente instalado abaixo de um bordel que fica no andar de cima e ao lado de um curtume.
Tente entrar.
O cheiro não é o que se pode chamar de perfume da natureza. Apesar desta impressão, boa parte do odor vem de coisas que morreram de causas naturais.
Ahhhhhh!
Sinta o perfume das famosas cebolas envoltas por fatias de peixe frito em conserva, que antes de estarem dentro de um balcão aquecido por uma ou duas semanas tinham uma vaga lembrança de como era o mar.
Os tipos mais estranhos estão desmoronados por aqui e por ali; alguns apoiados no balcão apenas pela barriga protuberante, desacordados por dias; outros aproveitam os muitos pontos onde a iluminação não existe mais, por terem as lâmpadas queimado ou por terem sido arrancadas pelos fregueses, para transações duvidosas com as moças que ocupam o andar de cima.
Bem próximo ao balcão você verá uma mesa especial. Além do fato de ser a única que possui quase todas as pernas e algumas cadeiras com encosto, um grande sujeito, de cabeça totalmente raspada, encara um copo de cerveja como se tentasse fazê-lo confessar algum crime. Outro coça ambas as orelhas simultaneamente, como que admirado pela própria habilidade ou pelo conteúdo extraído. O primeiro é o Imponderável Re-K-Nelo; o segundo, o Sublime Lord K-Rion, divulgadores da mais revolucionária doutrina metafísica desde Aristóteles, o Vagabundismo Esclarecido.
Na mesa, dedicados às tarefas pensativas prescritas pelos mestres, vêem-se os alunos Tortugos, o Quelonicósmico, com a barriga de fora, tentando sincronizar o umbigo para dublar o amigo Azed-Ume, o Cítrico, que canta Eduardo e Mônica de trás para frente e fazendo as vozes da canção junto com a irmã Femilli, a portadora da sagrada cerveja. Novo discípulo na escola, Cidharta, o Brahma-chopp das Índias Orientais tenta fazer, com seu umbigo, o acompanhamento em backing-vocals da melodia.
Em diversos graus de consciência se vêem outros discípulos: Duasflor, o cor-de-rosa, numa conversa animada com o espelho, onde faz a afirmação, a réplica e a tréplica, com cada um dos cotovelos enfiados em um diferente prato de sopa fria e gordurosa. Sem se deixar abater pelos sujos cotovelos, Tatuíra, o que vive nas areias, tenta dar cabo do que sobrou da sopa com um pedaço de pão velho. Debaixo da mesa, o irmão Sem-Nome tenta tirar a própria cueca pela cabeça, assistido e ajudado pela irmã Sylências, a que fala pelas orelhas. Amarrado, amordaçado e balançando junto ao lustre, ainda se pode ver o caçula Mínimus, pequeno entre os grandes.
Conseguindo passar incólume pelo Irmão Rinus, o Sungulinus, que se encontra acorrentado ao pilar que sustenta o teto, e ainda atrair a atenção dos mestres respectivamente de sua cerveja e/ou orelhas, você poderá perguntar a eles de que, afinal, trata esta brilhante escola filosófica, conhecida também como Peripatéticos Parados.
E eles responderão...

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